Cara ou coroa


Sexta-feira, quase 19 horas e eu ainda estava sentado naquela maldita cadeira de couro e rodinhas. Eu desejava que todos os meus sócios pulassem pelas janelas e me deixassem livre daqueles compromissos que não dependiam somente do meu esforço e habilidade em administrar uma empresa.

Odiava depender da boa vontade alheia, da dinâmica presente entre os funcionários e do meu bom humor para manter a estabilidade no local onde trabalhava. Seria mais fácil se as pessoas trabalhassem com gosto e desejo, ganhariam melhor e os problemas cairiam pela metade.

Bom, apesar de ficar devaneando no meu mundo perfeito e afrouxando o nó da minha gravata, não conseguia despregar os olhos do belo par de pernas da secretária que desfilava usando uma saia preta coladinha com um corte traseiro. Eu julgava os meus colegas, mas também me perdia naquelas pernas.

Reclamando ou não, eu sempre acabava sendo como qualquer outro dentro daquela sala. Um coiote esperando pela sexta-feira, pelas bebidas e pelas mulheres. 

Lembro que minha mãe havia perguntado se eu não procuraria alguma namorada e me casaria, pois já estava ficando velho e com alguns fios brancos. Eu disse não, não iria me atrelar tão cedo a ninguém.

Passo praticamente o dia inteiro aguentando problemas, escutando o toque irritante de inúmeros telefones, pessoas sonolentas movidas a café e cigarros. Espero pelos finais de semana para soltar o monstro que resguarda cinco dias da semana dentro de mim, nenhuma garota precisaria de um homem como eu. Pelo menos não as santinhas. 

Eu jogava no cara ou coroa. Esperava pacientemente pelas oportunidades do final de semana, e quem me dizia como vive-las era a minha moeda interna que girava entre o cara e o coroa. 

Fechei a agenda de couro e a guardei dentro da minha maleta e sai do escritório inventando uma desculpa qualquer. A minha moeda havia caído no coroa, eu seria o rei daquela sexta-feira.
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