Finais


Tirei os calçados e me joguei sobre o colchão de molas que rangeu. Eu estava desnorteada, minha mente estava zonza e as lágrimas teimavam em manchar a minha maquiagem. Girei meu rosto pela colcha bege e a manchei com batom vermelho, queria gritar e me lamentar pela fraqueza que me apossava por um nada amor.

Não lembro quanto tempo permaneci chorando, mas se continuasse naquele ritmo eu iria naufragar ali mesmo, deitada sobre um mar de decepções e medos. Enquanto tentava manter o controle, meus olhos castanhos estavam pregados na penteadeira, principalmente no espelho oval que havia nele. Eu observava uma garota derrotada, com o rosto manchado de pouco amor próprio, de horas desperdiçadas com alguém que não merecia sequer um doce olhar.

Eu odiava as coisas do coração, porque o amor sempre me feria mais do que o ódio. Mais do que tudo.

Andei dias e dias por lugares vazios, por caminhos solitários em quais ninguém conseguia chamar a atenção, onde pessoas não passavam de pessoas. Porém, esta abstinência não durou para sempre.

Era como se nuances o contornassem, e nas trocas do claro e escuro, ele se destacava como uma estrela luminosa e mortal.

Não lembro direito, mas suas mãos firmes e ásperas tocaram a minha pele com firmeza, afastando-me ainda mais da realidade que nos cercava. Estávamos no jogo de trocas, de caricias, de brigas, do proibido, era uma fonte inesgotável de inspiração e arrependimentos. Dizem que nunca é tarde para reconsiderar, mas para mim sempre era tarde. Eu sempre estava atrás do tempo e atrás das oportunidades.

Inutilmente eu me sentei sobre a cama e deixei que minhas mãos deslizassem pelo tecido de linho, pelas lembranças que estavam impregnadas sobre a minha pele.

Não estava frio, mas o frio me apossava e arrepiava os cabelos da minha nuca. Continuei deslizando minhas mãos pelo colchão até encontrar a dele, dura e fria.

Aproximei meus lábios de seu corpo imóvel e lhe beijei sobre os dedos rijos. De alguma forma ou outra, sempre haveria um final.

Finais traiçoeiros, finais solitários, finais vermelhos.

Apesar das circunstâncias, era eu que estava morta sobre aquela cama de molas, a faca invisível estava na minha garganta, e não na dele, como todos iriam imaginar.

Eu dedilhei as pontas dos seus dedos com os meus, como se fossem teclas de um imponente piano. Deixei o corpo tombar e fechei os olhos esperando meu inconclusivo final.

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