Éden


Eu era Eva em um Éden sem maças.

Eu poderia ser a pior das mulheres, das mais charlatonas, egoístas e manipuladoras. Poderia ter seu coração, seu corpo, suas riquezas, tudo que eu quisesse, mas eu era apenas aquela mulher. A mulher simples e devota, que mesmo em um grande mar de rebeldias, apenas colocava o meu melhor batom vermelho e me vestia da forma mais simples e que mais combinasse com meu estilo descompromissado. Afinal, eu estava bem comigo mesma.

Poderia ter sido a pior das mulheres, ter lhe guiado por transas absurdas e por caminhos estreitos, mas, apenas abri o meu coração de forma inocente, pois eu não sabia o que era a verdadeira maldade. Cega diante de sentimentos pouco explorados, apenas apreciando os pequenos vislumbres de seu sorriso misterioso e de suas mãos que acariciavam delicadamente a borda do copo. 

Ah, eu não sabia lidar com os homens, eu não tinha a experiência que gostaria com eles. Algumas diziam, deixe-o em paz, se ele se interessou, ele lhe buscará. Ou, vá atrás, não deixe esse partir. Em um labirinto de metidos eu me perdia em pensamentos, e mesmo que inutilmente eu só quisesse gerar uma nova visita, um reencontro, me queimava com a falta de experiência, com o medo e com uma possível rejeição que nunca havia me inflamado até então.

Cruzei mares de inseguranças, noites mal dormidas, de lábios trêmulos esperando uma resposta qualquer, da qual nunca veio. 

Talvez, eu seja uma garota viajante, onde o amor puro esteja na dobra de uma esquina desconhecida. Gosto de sentir a terra abaixo dos meus solados e da forma que a brisa acaricia os meus cabelos contra o céu azul. Mas do mesmo jeito que eu gostava da minha liberdade, toda vez que olhava para o lado e via aquela estrada vazia, eu desejava alguém do meu lado da mesma forma descompromissa que eu via a vida.

Estava perdida, esperando que você simplesmente viesse vestindo a sua surrada jaqueta de couro e me levasse de forma rápida por aquele caminho que tanto gostava de percorrer sozinha. Pela primeira vez, eu não me via de forma isolada, eu queria que alguém estivesse disposto a conhecer a verdadeira beleza e simplicidade da vida. 

O Éden não estava tão longe assim, apenas alguns gestos, algumas brechas para que a vida ganhasse um novo significado. Enquanto as maças apodreciam no chão, eu caminhava confusa pelo jardim, as lágrimas coloriam minha face e meu colo, eu não conseguia me controlar. Seria tão errado viver uma obra prima?

Uma garota com sede de viver, ansiando uma ligação, uma buzina inesperada na madrugada. Uma garota triste, perdida na sua própria inocência, criando raízes nos portões de entrada do Éden.
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